Dez regras de ouro para uma comunicação sustentável
Assim como parece não haver dúvida de que a preocupação sustentável passou a ser, mais recentemente, fator importante no processo de construção de uma marca, começa a se esboçar um consenso de que o desafio dos planejadores de marca será utilizar, nesse esforço, um marketing também sustentável que considere quatro princípios afinados com a noção de sustentabilidade: a verdade, a clareza, o não-desperdício e a coerência entre o que a marca promete e o que efetivamente entrega. A título de contribuição para os que pretendem fazer uma comunicação consciente e responsável do atributo da sustentabilidade, fica a recomendação de dez regras de ouro:
1) Identidade é tudo, imagem é pouco
O posicionamento deve se basear em identidade clara, persuasiva, verdadeira. Precisa se expressar em idéias fortes e símbolos vivos. Uma empresa sustentável tem uma causa, um propósito que excede o do negócio, mas se expande nele e o legitima, inserindo-se na vida cotidiana das pessoas. O desafio de comunicar a sustentabilidade é, portanto, conferir verdade a essa causa e compartilhá-la com os públicos de interesse e a sociedade.
2) Identidade define a linguagem
A identidade define a linguagem e inspira. Constrói-se a partir de uma missão, uma visão e valores. Traduz o que ela faz para ser sustentável, como ela deseja ser no futuro e em que acredita. Como disse o filósofo francês, Giles Lipovetski, em visita recente ao Brasil, “ética e estética andam abraçadas nesse mundo contemporâneo.” Na comunicação da sustentabilidade, isso vale como regra de ouro.
3) Sustentabilidade são valores
A sustentabilidade se escora em um conjunto de novos valores que devem estar presentes na comunicação: diversidade, transparência, interdependência, respeito aos outros e ao ambiente. Tudo o que se opõe a isso tenderá a ser visto como arcaico. Não tem verdade, não produz confiança. Boa comunicação é a que, de alguma forma, incorpora esses valores na mensagem.
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Confiar é tudo! |
4) Confiança é palavra-chave
Uma comunicação criativa é aquela que consegue gerar confiança nos públicos, que abre janelas em sua percepção, toca algum sentimento positivo, respeita a sua inteligência, mobiliza emoções. Só a confiança constrói relações sólidas. E o que gera confiança num mundo de desconfiados em potencial? Fatos e não promessas, humildade e não arrogância, números e não suposições, políticas concretas e não projetos, práticas e não discursos; convicção e não conveniência, senso de oportunidade e não oportunismo.
5) Primeiro, a lição de casa
Antes de comunicar para fora, a empresa deve fazer a sua lição de casa, informar sobre as políticas, ações e projetos. Precisa envolver os funcionários, fazendo-os se apropriarem da mudança e se sentirem “parte importante” dela, criar cultura para a sustentabilidade, alinhar conceitos e educar as pessoas.
6) Honestidade sempre
Cuidado com as promessas que não podem ser cumpridas ou facilmente contestáveis, seja porque são exageradas seja porque a empresa não está preparada para atendê-las. Sustentabilidade é futuro. Mas o futuro se edifica com atitudes honestas hoje. Comunicar o que não se é, o que não se pode ser ou que não se consegue fazer acaba gerando desconfiança.
7) Menos idealização, mais foco no presente
Cuidado com as idealizações excessivas, as projeções mirabolantes, a grandiloqüência. Os públicos tendem a acreditar no que podem ver e tocar, no que lhes faz sentido hoje. Todo cliente, cada vez mais, quererá se relacionar com empresas/marcas que agem e pensam como indivíduos decentes.
8)O tom humano das mensagens
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“Nós fazemos, nós somos…”. |
Substitua o tom distante do “Eu faço, eu sou…” por um mais inclusivo do tipo “Nós fazemos, nós somos…”. Afinal, a única verdade que se tem como absoluta em sustentabilidade é que estamos todos no mesmo barco. O tema deve servir para aproximar as pessoas em torno de uma causa comum e não afastá-las. Elimine também o auto-elogio, o tom relatorial, frio e hierárquico. Prefira um tom mais próximo, sincero e baseado em narrativas que façam sentido para a vida das pessoas. Evite, por outro lado, a linguagem seca, áspera, impessoal. Não se está falando de algo “empresarial”, fora do universo humano. Mas do próprio humano que há no empresarial
9) A simbologia
Transmita otimismo, fé na vida, altruísmo, respeito ético pelo ambiente e pelas pessoas. Valorize o que é diverso. Venda o sentimento de que não se sabe tudo, mas se quer aprender. Não intime a participar, convoque vontades. Mostre gente com cara de gente, meio ambiente próximo. Dê aos receptores da mensagem a possibilidade de reconstruí-las simbolicamente, de se apropriar delas, de se identificar com o que é comunicado.
10) Sobre Transparência
Preste contas. Para cada fato apresentado na comunicação, apontes evidências. Mostre que cada ação, projeto ou programa integram o conjunto de políticas sustentáveis da empresa, que são parte de um todo, uno e integrado; que dizem respeito à missão, à visão e aos valores; que evocam a identidade da organização. Só a coerência supera a tendência à desconfiança das pessoas em relação à honestidade dos atos sustentáveis por parte das empresas.
Artigo publicado no jornal Gazeta Mercantil em 16/09/2008.